Tonto
sábado, março 31, 2007
Jogar é um impulso natural e funciona como um grande motivador da imaginação, da auto afirmação, da autonomia e da destreza humana. É verdade que quase todos os jogos, exceptuando alguns azarados jogos da sorte, têm os seus objectivos, estratégias, vantagens, castigos, variações e regras, que vão ditar o que "vale" ou não dentro do mundo imaginário do jogo. Jogar tem todavia e igualmente o seu modo e tempo de utilização, ou seja, um estado inicial, um meio e um fim; com possibilidade de repetição. Também é verdade que o verbo jogar aparece quase sempre aliado ao verbo competir. Mas não será mentira se se escrever que a acção de jogar não se alinha necessariamente na sequência da acção de disputar. Pode dar-se o caso de num jogo não existir nem perdedor, nem vencedor. Tal proeza acontece quando jogador e adversário se predispõem a jogar com a vitalicia-vontade de absorver uma aprendizagem comum. Tanto melhor se essa aprendizagem for partilhada num clima de entusiasmo, exaltando sentimentos de tensão que tenderão organicamente a ser seguidos por um estado de alegria e distensão temporária. Não haverá, decerto, jogo mais complexo e surpreendente que o próprio acto de viver. Mesmo que possa ser injusto demasiado.
quinta-feira, março 29, 2007
Palinventar.
"Bien sûr y'a les rimes en fleur, les métaphores, les grands discours Les " je n'aime que toi ", les " mon amour ", les " pour toujours " Les soleils couchants, le vent, la plage, les océans Les références au coeur, c'est un organe très émouvant Miauler " Je t'aime " tout le monde peut l' faire, c'est comme Amen C'est pas très dur Pour dire " bonne nuit " chaque soir, là, faut vraiment y croire Pas besoin de prêt à porter, de slogans, de phrases toutes faites Tous ces passe-partout, prêts à l'emploi qu'on se répète Les mots d'amour c'est pas ça C'est bien plus compliqué crois-moi Les déclarations les plus belles Ne figurent pas dans les manuels C'est banal mais les quelques mots que je te destine Je les préfère aimantés sur le frigo dans la cuisine Je veux voir nos initiales côte-à-côte sur l'interphone Pas gravées au canif dans l'écorce d'un chêne Pas besoin de vieux balcon, de Roméo et de Juliette Je peux me contenter d'un petit signe par la fenêtre Faisons l'impasse sur les violons, " les toi pour moi " et vice versa Tous ces mots trop doux qu'on a prononcés trop de fois Mon p'tit coeur, mon p'tit chat Mon trésor, mon petit rat Ma p'tite fouine, ma p'tite teigne Ma sardine, ma Sardaigne Mon sagouin, mon trois fois rien Merci qui ? merci mon chien ! Mon soleil, mon bouquet de roses. Mon orteil, ma boîte de douze On peut bien sûr parler d'avenir promettre monts et merveilles C'est bien plus fort " à tout à l'heure " quand on le murmure à l'oreille Certains construisent des châteaux, ils y mettent des perles de pluies Moi j'ai fixé une étagère, elle est d'ailleurs tombée depuis Ils trouvent encore des formules quand ils se séparent Et habillent de ridicule la fin de leur histoire Moi j'ai pas le coeur brisé, j'ai vérifié chez mon médecin. Mais je regrette ces mots d'amour que tu me disais si bien."
Ben.
Ben.
terça-feira, março 27, 2007
Dançar.
Ao inicio, muito antes das palavras, eram os movimentos: das águas, dos ventos, das terras e dos vulcões. Depois, eram os primeiros seres-vivos. Muitos anos mais tarde, era a mulher, o homem e os sentimentos. Não demorou muito para que fosse o dançar. É que os dois sentiram a vital necessidade de se exprimir. Cedo perceberam que o corpo (cada braço, mão, perna, pé, ancas e pescoço) os podia ajudar... E dançaram , dançaram, dançaram. Agradeciam, riam, choravam, anteviam e pediam sempre em passos de dança. Todavia, com o passar do tempo e com a idade a avançar o corpo ia pedindo descanso e perdendo flexibilidade. Surgiram então as palavras e com elas a sinceridade da expressão, ao contrario de todas as espectativas, detriorou-se...
( E hoje, a menina ainda Dança?)
( E hoje, a menina ainda Dança?)
quinta-feira, março 22, 2007
Reflectir.
quarta-feira, março 21, 2007
Chegar.
Na cidade a neve ia chegando atrasadamente. Mas a primavera chegava também. Os poetas chegariam em breve e as árvores só não chegaram porque permanecem. Se as andorinhas também chegassem, chegariam bem a tempo para ver a água do rio chegar à minha mão. Mas se as andorinhas chegassem mesmo, de certeza que não queriam saber se a água do rio tinha chegado à minha mão, iam antes perguntar: e os amantes da Ponte Nova chegarão?
Perseverar.
Decerto que todos temos as nossas lutas, os nossos combates, os nossos véus de ilusões. Decerto também as nossas causas e as nossas pequenas utopias. Ás vezes, dá-se o caso, de projectarmos tudo em grandes planos. Salvo raras excepções, também é quase certo, que todos quando as coisas correm menos bem, perdemos a coragem e ganhamos a vontade de baixar os braços e emudecer a voz. São nestes momentos que nos devemos lembrar de uma lei natural tão básica quanto antiga, que diz que para se colher seja o que for, precisa-se sempre de noites quentes e menos quentes, de dias de sol e de dias de chuva, de nuvens e de céu azul. Se aceitarmos esta grande verdade, não precisamos de sorte, só de perseverança. Pelo meio fica sempre a garantia de se alcançar um arco-iris...
domingo, março 18, 2007
Adormecer.
Adormecer é meio caminho andado para dar ao corpo o descanso que ele precisa. É também meio caminho andado para começar a sonhar. Há muitos caminhos para se adormecer: ouvir uma história é quase sempre meio caminho andado para começar a sonhar. Às vezes, temos dificuldades enormes em seguir o caminho certo para adormecer. Outras, em seguir o caminho certo para começar a sonhar. E isso, mesmo que seja entendido como uma dificuldade normal, universal e humana, custa sempre muito. Mas ao que parece, também as insónias, sejam elas transitórias de curta ou media duração, são meio caminho andado para se reflectir no caminho inteiro de como se quer recomeçar a sonhar...
sábado, março 17, 2007
Princesa.
Escolheram o fim da tarde - a ideia era assistir ao anoitecer. Ela lembrou-lhe que o tempo estava um espanto: estava calor e parecia que não ia chover. Embarcaram. Nos bancos meio gastos de um barco onde meteram os pés viram todo o céu, todas as pontes, todos os cais, todas as cores, muitas igrejas a alguns museus. Depois ouviram juntos a Vie en Rose. De repente e num ângulo priveligiado, as luzes começaram a acender-se. E a torre que já era bonita, parecia-lhes agora uma princesa. Um encanto! Foi naquele momento, em que tudo parecia cintilar, que prometeram um ao outro, num breve sussurrar de lábios, que um dia voltavam a Paris.
sexta-feira, março 16, 2007
Pontes.
As pontes atravessam rios e vales e estuários e cidades... São erguidas para superar obstáculos, para desfazer diferenças, para criarem unidade. De uma ponta à outra. Para levar qualquer coisa para o outro lado,para o lado de lá, para a outra margem, mas também para a margem de cá. Por cima, passam carros e comboios e aviões e condutas e passáros azuis e às vezes também pessoas. Por baixo, passam barcos e peixes verdes e flores e mais carros e mais comboios e mais condutas e às vezes também mais pessoas. Há pontes que são famosas; Pontes que são reliquias do lugar onde estão; Pontes que assentam a revolução; Pontes onde assentamos os pés. Uma vez uma ponte, guardada pelas suas torres, conduziu-me o olhar até às luzes de uma Castelo... e de repente anoiteceu e ficou tudo tão bonito... São pontes como essa que queremos sempre voltar a pisar, a atravessar. Porque na verdade, uma ponte é também só o contrário de um muro: Não nos tapa a visão. E eu prefiro.
quinta-feira, março 15, 2007
Salpicos.
O mundo e a realidade podem ser entendidos de formas diferentes- certo; o verso e o reverso podem causar perturbações e desafios - verdade; a ideia e a noção podem ser concebidas em dualidade - incontornável; a arte e o belo podem provocar as mais variadas sensações - inquestionável; o sublime e o seu contrário podem fundir-se - exacto; o previsto e o imprevisto podem cruzar-se e descruzar-se ao mesmo tempo- correcto. Mas uma tarde soalheira de Primavera passada nos salpicos frescos da relva que cresce será sempre e sò uma tarde soalheira de Primavera passada nos salpicos frescos da relva que cresce.
quarta-feira, março 14, 2007
Memória.
"Não são só os ratos, aliás, que moram conosco no sótão. Possuímos um jardim zoológico completo de formigas, melgas, traças, centopéias, aranhas, grilos, carunchos, que presumo alimentarem-se da mesma falta de comida do que nós, sem contar as borboletas que se esmagam contra as lâmpadas, no verão, e se reduzem de imediato a um pozinho escuro de verniz. E há os pombos. E as rolas. E os barcos, como lesmas, no Tejo. E os vizinhos em camisola interior, incapazes de voar, crucificados nos craveiros das varandas. E tu e eu, cada vez mais transparentes e magros, a prepararmos o pequeno almoço de meio grama de heroína da injeção da manhã."
in Auto dos Danados de A. Lobo Antunes
(hoje galardoado com o Prémio Camões)
in Auto dos Danados de A. Lobo Antunes
(hoje galardoado com o Prémio Camões)
terça-feira, março 13, 2007
Quem tem medo dos piratas?
Uns dizem que gostam de aventuras. Outros aventuram-se mesmo. Uns dizem que gostam de viajar. Outros viajam de verdade. Uns têm medo de andar de avião. Outros voam bem alto. Uns tiram a carta de condução e pagam o aluguer da garagem. Outros fazem-se à estrada e não hesitam um segundo sequer. Outros só viajam em transportes públicos e há outros que correm a vida inteira à boleia. Há ainda aqueles que só andam a pé. E aqueles que enjoam em mar alto. Depois, há os que enfrentam os medos, os enjoos, os conformismos e as luas cheias todas, só para descobrir o que está para além da linha de lá. Uma ilha? Um farol? Quem sabe uma pequena maravilha? Às vezes são colhidos por piratas, que por conta própria, lhes pilham o que ainda lhes resta dos tesouros mais preciosos. Mas às vezes, acontece que os piratas, com a sua mestria de mares, também os salvam de outras grandes tempestades...
segunda-feira, março 12, 2007
Retrato.
Às vezes podemos virar as costas, fechar as portas, tranca-las a cadeado e depois fingir que deitamos as chaves ao rio, mas raramente conseguimos fechar todas as janelas e apagar as lembranças todas...
sábado, março 10, 2007
Os verbos.
Há coisas que são dificeis de lembrar, mas impossíveis de esquecer. Como os verbos, por exemplo. Aprendemo-los na escola, quando somos pequeninos, para podermos exprimir correctamente as nossas acções: as passadas, as que ainda se passam, as que vão se passar, as que nunca se não passaram (mas podiam ter passado), as que foram obrigadas a se passar, as que foram desejadas ou as que ainda se desejam... Depois crescemos e por vezes, deparamo-no com problemas de conjugação, de regularidade, de transitoriedade, de flexibilidade, de designação. Mas, mais tarde ou mais cedo, a imagem da professora vem-nos à memória e a gramática à ponta da língua. Afinal, é tão simples, como a tabuada... mesmo para aqueles que não percebem nada de tabuada. Hummm. Mesmo assim há acções bem mais simples a aprender que outras. Admito que conjugar o verbo " conquistar" é bem mais fácil do que conjugar o verbo " reconquistar". Que diria o D. Afonso Henriques?
Eu queria que alguém me esperasse algures.
Num canto de rua, numa saída do metro, numa fila de crepes, numas bombas de gasolina, numa bilheteira do cinema, numa padaria da esquina, numa cantina da escola, numa porta de casa, num pátio da faculdade ou numa ponte qualquer que atravessasse o rio. Num aeroporto, num cais, numa estação, numa doca, num museu, num qiosque, numas escadarias da ópera às quatro da tarde. Ao virar de uma página, de um dia, de uma canção. Podia ser de inverno, de verão, na primavera ou no outono, não importava a meteorologia. Eu queria que alguém me esperasse algures. E depois de me encontrar queria que alguém me escrevesse todos os dias todos os bilhetes imbecis do mundo a dizer: " agora que te encontrei não te quero voltar a perder".
quinta-feira, março 08, 2007
Mulher.
Embora haja dados que não escamoteiam as diferenças que existem, hoje o quadro jurídico garante-nos o respeito pelo igualdade: inquestionável! No entanto, transgredidas as portas do século XXI, consagrada a igualdade de direitos e ultrapassado o nível de instrução, urge ainda perguntar: E agora Mulher? Que vais fazer com a igualdade formal que alcançaste? E com a instrução e a formação técnica e cultural que adquiriste? Que vais fazer para, acabar, de vez, com as desigualdades impostas pelo sexo desta sociedade ainda falocêntrica? E agora mulher, porque esperas para reivindicar a tua Felicidade?
Continua a ser urgente que o teu Fazer seja a expressão do teu Ser... humano, também...
Continua a ser urgente que o teu Fazer seja a expressão do teu Ser... humano, também...
quarta-feira, março 07, 2007
A minha amiga.
Sem mais nem ontem a minha amiga é linda! Não é so minha, mas é minha amiga há tempos. Não me lembro, desde que a conheci, de não ter sido amiga dela. Na verdade, nunca fomos amigas à sorte, mas também nunca fomos amigas por azar. É minha amiga porque é boa comigo, porque me faz sentir bem, porque não me bate. E minha amiga porque ainda não se zangou comigo por não lhe ter escrito um postal daqui d'onde estou. É minha amiga porque sempre me preencheu e nunca me mentiu só para me agradar. É minha amiga porque ganhamos horas e horas de faculdade juntas e perdemos tempo e tempo naqueles trabalhos melindrosos de (deixa ver se me lembro do nome todo) Problemática Cultural dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa (lembraste?). É minha amiga porque me ajudou a perceber, em determinado momento da minha existencia, quem era e o que é que andava pra aqui a fazer. É minha amiga porque partilhamos uma data de ideias e a outra data de ideias que não partilhamos, respeitamos. É minha amiga porque sempre que me fala, mesmo quando as palavras vêm de longe, muito muito muito muito longe, fazem-me sempre bem. É minha amiga porque sempre que a sei triste, fico triste também. É minha amiga, porque mesmo nas alturas em que andamos as duas desorientadas a SINTONIA não nos escapa... (tu percebes). E se por acaso caimos as duas no chão damos as mãos, assim levantamo-nos mais facilmente...
terça-feira, março 06, 2007
segunda-feira, março 05, 2007
Uma janela na cidade.
Quando oiço a palavra Lisboa lembro-me logo da palavra poesia. Talvez pela beleza solar (ou lunar, também), feita de pedra, de calçada, de cor, de azulejo. Talvez pelo quadro das sete colinas brancas que se debruçam em cascata rumo ao rio. Talvez pelo próprio rio, coberto quase sempre por um céu pintado de azul .Talvez pela tatuagem feita de luz, que nos fica entrenhada até ao último sopro e nos inspira a vida inteira. Talvez pela tristeza feita de fado e de um cais que avista a esperança, mas esperando ainda desespera. Talvez por todas as sugestoes que o velho eléctrico, que nos leva ao castelo, ainda nos desperta. Ou talvez porque a palavra Lisboa, me lembra também a palavra casa. Curioso... Há um pormenor que me surpreende sempre quando saio do aeroporto e atravesso a cidade: não sinto saudades. Talvez, porque afinal, nunca me fui daqui embora. Talvez porque em minha casa há sempre uma janela a lembrar-me que a poesia ainda vive.
deixa-me dizer-te.
Deixa-me dizer-te um segredo: expliquei a um amigo (que fala a mesma língua do teu Charles Robert) o que tinhas feito, porque estavas aqui sentado, porque todos te queriam fotografar e porque é que aparecias hoje nas publicidades dos autocarros como candidato ao lugar de maior português ( deixa também que te diga que acho esta votação absurda. Deves te rir ai onde estas..) . O meu amigo tambem se riu e depois chamou-te mad! Mad???? Mad??? Mad são eles que não metem a máximo no minimo que fazem, que não vivem alto como a lua, que não sabem ser ridículos de vez enquanto e que preferem permanecer a navegar. Mad são eles que não sabem quanta metafisica há num só chocolate! Mad são eles que não se sabem perder - pensei!
sábado, março 03, 2007
A viagem da perdida.
Não sabia como tinha ido ali parar. Talvez fora o desvio na segunda curva à direita depois da pupila cansada de outras vistas... Sabia que precisava sair. Pensava que conhecia um qualquer caminho para regressar. E enfrentou então a água toda para alcançar, muito hirta, o patamar da terra...