terça-feira, janeiro 23, 2007

Trajecto ou destino?

- Eh pa! Deixa lá! Há dias assim, em que um gajo se sente pior! Vá , não penses mais nisso! - comentou-lhe, com aquele seu tom habitual, entre a indiferença e o tanto faz de alguém a querer-se livrar de alguém e por-se rapidamente a caminho de casa .
- Ohh pá a sério, este corpo e esta cabecinha não andam mesmo nada famosos - insistiu o "amigo".
- Deixa-te de paneleirices. Tu sabes bem que és um privilegiado. Despacha-te lá, mas é.
- Sabes, é que às vezes sinto que... penso que...
- Ai sim? Tu também pensas? - gargalhada.
- Lá tás tu...
- Lá tou eu o quê? Olha o comboio já ai vem.
- Penso... Penso sim.. Penso por exemplo que gostava de ir trabalhar sem precisar de dinheiro, que gostava de ser amado como se nunca me tivessem querido antes, que gostava de dançar como se ninguem me estivesse a ver...

(Pára, apaga o cigarro, levanta a cabeça, olha para o outro lado da linha, fixa 1o segundos um tipo, franze a sobrancelha e tchan tchan ... reconhece o francisco do 9ºano)

-...olha, mudei de ideias.. afinal já não vou apanhar o comboio. ' té amanha então..
Não apanhou o comboio, mas também não foi atrás do francisco.
Desatou a correr e acabou por entrar no metro.
Dizem que naquelas paragens nunca mais niguém o viu. Mas, também dizem que hoje, aquele corpo e aquela cabecinha, andam muito mais famosos e felizes.
Reflexão final: a felicidade é um destino, ou É, antes, um trajecto bem escolhido (mesmo que tenha nascido de um impulso)?

quinta-feira, janeiro 18, 2007

A sinceridade é o principio e o fim de todas as coisas.

ALICANTE
Une orange sur la table
Ta robe sur le tapis
Et toi dans mon lit
Doux présent du présent
Fraîcheur de la nuit
Chaleur de ma vie.

- Confucio&Prevert -

domingo, janeiro 14, 2007

Ainda a propósito da despromoção de Plutão...

(...)

Ele era optimista, inteligente, divertido, filosófico e um bocadinho aldrabão. Era audaz, porém sereno. Gostava da liberdade como quem gosta de jogar e de se aventurar a cada novo destino. Amava com a curiosidade de um adolescente e detestava a monotonia dos dias. Tanto, que era mesmo capaz de se levantar de noite para lhe oferecer um chá. Ela preferia Actimel e não gostava de estar sozinha. Também não gostava de tomar decisões na hora. Puxava conversa facilmente e quando queria, sabia ser sensual e possessiva ao mesmo tempo. Gostava das teatrices, da praia, da lua, dos banhos de espuma e dos morangos com champagne. Não suportava injustiças muito menos pessoas de mau humor. Ele era Fogo, ela era Ar. Diziam as previsões que tinham tudo para dar certo, mas os astros também se enganam... e alguns até são despromovidos...Mas quem disse que o Universo se explicava com a arbitrariedade de quem explica a fotossíntese, esse processo químico através do qual os vegetais e certas bactérias e algas azuis produzem a sua própria matéria orgânica, a partir de energia luminosa e de substâncias simples, como a água e o dióxido de carbono, libertando no processo oxigénio para o meio???

(...)

sábado, janeiro 06, 2007

Era "preto"?

Se há coisa que me enerva é que associem os actos de má fé aos negros. Negros que pela força da expressão e da linguagem racista das nossas gentes dá "pretos". Como se os pretos fossem os culpados de tudo. Pois aqui fica mais uma das minhas historias, que vem ilustrar uma data de coisas, nomeadamente essa grande verdade que a minha mãe faz sempre questão de dizer, quando qualquer coisa de bizarro me acontece. Seja a coisa despoletada pelos meus actos inconsequentes ou não. Essa grande teoria de " que se não nascesse tinha de ser inventada"!

Então, no outro dia tinha eu acabado mais um dia produtivo de pesquisa na mui nobre e distinta Biblioteca Nacional de Lisboa, que para quem conhece, fica ali em Entre Campos, ia eu a caminho de casa, com os fones nos ouvidos, a mala a tiracolo e a pasta do portatil no ombro , ali pela rua João Soares na direcção do Campo Grande, que para que não sabe, é uma rua paralela ao Jardim do Campo Grande, mesmo ao lado das universidades e do Colégio Moderno, quando subitamente dou por mim, a ser abafada por alguém que me sufoca o pescoço e me pede o telemovel e o portatil. Sem reacção e sobretudo sem ar acabo por deixar cair ao chao a mala com o pc. A pessoa, pela estratégia engendrada so me deixou ver o perfil ( aparentava ter entre os 16-18 anos, era mais alta que eu, era rapaz, tinha uma camisola vermelha e umas calças claras e so me lembro de o ouvir " caladinha caladinha, o pc e o telemovel, caladinha, caladinha", ahhh e sim "era preto"). Não ofereci resistência - receava que me esfaqueasse ali mesmo, ou quiça me desse um tiro (enfim, no fundo, tambem sou uma grande vitima do cinema e da eficiente conspiração do medo). Quando ele conseguiu o que queria, atravessou a correr a rua, que estava repleta de carros ( ja no passeio onde estava nao passava vive-alma) e enfiou-se Jardim adentro. Perdi-lhe o rasto. Não sei contabilizar o tempo da acção, não sei se a cena se passou em 3 , 4, 10 minutos. Quando lhe perdi o rasto é que me começei a enervar. Tremi mesmo. O meu computador e o tlm novo tinham desaparecido. Assim , como grande parte dos meus dados, que por estupidez não tinha feito cópias de segurança. Desatei a correr e lembrei-me que 100 metros à frente devia haver um policia. Afinal o Excelsso ex-presidente da republica, o sr. dr. mario soares vive ali perto e tem sempre a porta um guardião. Mais sorte que eu, mera transeunte. O policia ouviu-me e disse que nao podia " abandonar o local", mas la chamou os colegas que meia hora depois do ocorrido apareceram ao pe de mim. Nas calmas disseram-me para entrar no carro que iriamos, em conjunto, procurar o individuo. Ideia brilhante do policia nr. 1, " vamos ao metro de Entrecampos", que para quem sabe, fica ali antes do Campo Pequeno, ali pros lados da ex-feira popular. La fomos para o metro. Como se meia hora depois o individuo estivesse no metro a nossa espera... Do metro, fomos ver a estaçao de comboios, sita no mesmo local. Tentativas vas - como é obvio. So mesmo os policias para se lembrarem disso. Enfim, o dever obrigava-os a fazer a ronda. Nao importa que ronda, mas a ronda. Claro que nao encontramos ninguem nem reavemos nada. Mas eu aprendi uma data de coisas:

1- a dita rua onde fui agredida e assaltada é uma rua perigosa, e toda a gente sabe disso. Todas as semanas se passa ali qualquer coisa deste genero. Sublinho, todas as semanas! Relembro que a dita rua é uma rua onde ha bibliotecas nacionais, universidades, colegios publicos e privados e muitos estudantes, com certeza...
2- a lesgislaçao manda que os presidentes reformados tenham um policia a porta, mesmo se isso implica que as ruas perigosas onde ha bibliotecas nacionais, universidades, colegios publicos e privados e estudantes fiquem a merçe dos ladroes e continuem perigosas e desanconselhadas. Contençao de custos?
3- brincar aos policias quando se e pequenino nao e assim tao diferente de ser-se policia em portugal quando se é grande, com a diferença que quando se brinca aos policias quando se é pequenino, a maioria de nos nunca quer ser administrativo e somos mais prespicazes...
4- quando contamos episodios destes aos amigos, conhecidos e afins a primeira pergunta que nos colocam é " era preto?"

Infelizmente, tive de responder que sim, que era "preto". Claro que estou com um pó de ódio ao individuo, não porque ele era "preto", mas porque me roubou. Podia ter sido um branco, um amarelo ou um azul, mas as pessoas não entendem isso. Pior, condenam mais o facto de ele "ser preto" do que o facto dele "ser assaltante". O facto de ser " preto" da asas para debates indeterminaveis, ao ponto de se esquecer a evidencia de que um individuo roubou uma individua! E isto enerva-me. Ao ponto de dar por mim a defender o mesmo individuo, o mesmo que me roubou um pc de tres meses e um tlm novo, só porque ele era "preto". E a condenar o raio da intervençao policial neste pais!E quando penso nisto, vejo que o mundo anda mesmo equivocado (outro exemplo, há bem pouco tempo dei por mim a ter "piedade" do saddam, alguem por quem nunca nutri afeição, " só" por ter sido sujeito à pena de morte, e isto não é normal. Estarei louca?). Porque raio é que quando um arrumador de carros, a quem não demos moedinha, nos faz um risco enorme na porta, nos fura os pneus ou nos parte o vidro, ninguem se lembra de nos perguntar" ERA PRETO"? Sera porque na maioria das vezes são BRANCOS?

A questão que parece que nos andamos todos a esquecer é que todos os seres humanos devem ter assegurados: liberdade, bem-estar e dignidade. O acesso a saude, a habitação, a educação, a cultura e ao trabalho deveria ser igualitario para todos. De cascais a cova da moura, passando plo restelo e por chelas. Se assim fosse evitava-se que se roubassem pc's e tlm nas ruas e que pessoas pacificas ganhassem pó a outras pessoas. Mais, aprofundar-se-ia a tolerancia, a convivencia pacifica e até mesmo a democracia neste mundo fragmentado e injusto, mas, ao mesmo tempo diversificado e colorido ... parece que o que temos de inventar, é sim, um nascimento novo!

(Fdx, e se se tiver de despenalizar as drogras, q se depenalize!!!!)

quinta-feira, janeiro 04, 2007

IVG

Não deve ser nada divertido fazer-se um aborto. Dizem as estatisticas que as mulheres que o fazem, fazem-no na maioria das vezes a chorar. E na maioria das vezes, fazem-no, por " não ter condiçoes para criar um filho". E nos dias que correm, todos querem ter as melhores condiçoes (materiais e emocionais) para criar os filhos... Dai que não seja egoista por parte da mulher querer abortar. Assim, como também não é irresponsavel. Porque irresponsavel seria ter-se um filho indesejado nos dias que por ai se avizinham. Sempre me ensinaram que quando se corre um risco, temos de ter a coragem de assumi-lo e vontade de tentar reparar os danos que o risco nos causou, por mais doloroso que isso possa ser. Porque ao repara-lo estamos a ser responsaveis. Mais importante ainda, é que o direito-de-escolha-do-que-fazer-com-o-corpo é um direito imprescritivel a homens e mulheres. Porque somos livres e responsaveis.
Nao falta quase nada para chegar o dia do referendo para a Lei do Aborto. As campanhas do sim e do não estao nas ruas, em todos os cantos em qualquer painel. Acho humilhante a campanha do não e aquela coisa do " já bate um coração"... E aquela história ridicula dos impostos, como se em portugal se pagasse impostos... Um feto deficiente ou fruto de uma violação tem um coração diferente? Ou não tem coração? Estes sentimentalismos metem-me nojo. Portugal, Polonia e Irlanda, a trilogia maravilha, que não tem uma lei do aborto decente e que depois dá asos a este tipo de campanha, mas adiante... Em todas as conversas que tive oportunidade de participar sobre este assunto, nunca consegui convencer ninguem do não, como a mim nunca me conseguiram dissuadir do SIM. É assim, um género de extremismo vincado.
Em todo o caso, estou muito optimista em relação ao resultado do referendo. Noto que a informação sobre este tema esta mais do que nunca a ser reactivada e isso é o mais importante. E depois, o pior aluno é aquele que não aprender. Assim, como o pior dos seres é aquele que não quer perceber que ainda morrem mulheres por fazerem abortos clandestinos, mulheres que não tem meios de se deslocarem a clinicas estrangeiras para poderem abortar(relembro que o aborto que ocorre em condições de risco causa entre 50.000 e 100.000 mortes anualmente em todo o mundo. Em alguns países, as complicações do aborto em condições de risco causam a maioria das mortes maternas e, noutros, são as causas principais da morte da mulher em fertil). O pior dos seres é aquele que não tem capacidade de discernir que o aborto foi uma realidade, é uma realidade, e continuara a ser uma realidade: sempre existiu, existe, e vai continuar a existir. E não é por ser legal que se vai fazer a dobrar, porque ninguem aborta só porque a lei permite. Não será certamente a legalização do aborto que vai fazer diminuir a taxa de natalidade. Os outros paises membros da UE provam isso mesmo. O que diminui a taxa de natalidade é o não aumento de salarios em contraposição ao aumento dos custos de vida.. Se se aumentar os salarios, aumenta-se as criancinhas, de certeza! Resumindo, a questão que está em causa é: em que condições se pode realizar o aborto??? Recordo que a lei da despenalização do aborto é uma LEI DE SAUDE PUBLICA!! Vital, fundamental, necessária e urgente....